Hoje tenho a grata satisfação de conversar com o Dr. Mário Carneiro, um médico e produtor rural que gentilmente me recebeu em sua casa e tivemos uma conversa franca, proveitosa e reveladora. Sim, reveladora com as suas experiências como produtor rural. É muito interessante essa mistura de médico a produtor rural e acho importante essa mistura, pois assim temos cada dia mais pessoas diferenciadas no campo. Por isso, estamos cada dia melhor, ganhando prêmios de produtividade, como o prêmio de produção de soja em 2022 no Brasil, concedido pelo Ministério da Agricultura e medido pelo IBGE.
Com novos empresários rurais e não mais fazendeiros, para se ter lucro não é mais necessário ser do campo ou ter um pai fazendeiro e sim ser competente e buscar novas tecnologias para se produzir. Como sabemos, a nossa agricultura e pecuária têm se destacado mundialmente devido à capacidade de se produzir cada vez mais no mesmo espaço de terra, ou seja, o Brasil é o país que tem a maior área de preservação ambiental dentro de suas propriedades rurais no mundo.
Comecei a conversa com uma pergunta ao Dr. Mario Carneiro para saber como ele vê nossa região como produtora do agro. “Antes eu era otimista, hoje eu sou realista e tinha um sonho de ver Itapetininga como uma grande produtora do agro, por ter a maior área agricultável do estado, somos o terceiro município em extensão territorial, mas o primeiro em terras agricultáveis, por isso a produção de pecuária bovina é maior no centro oeste e norte do país , que precisa de grandes extensão de terra para a criação até se chegar no ponto de engorda, hoje é uma realidade essa nossa vocação para a agricultura”, disse.
Segundo ele, a nossa cidade se tornou referência e está atraindo cada vez mais investimentos de grandes empresas nacionais e multinacionais em nossa região. “Isso me deixa muito contente, pois quando comecei a investir em pecuária, pecuária genética, buscando a melhora no plantel, pois tinha em mente que um rebanho só se torna comercialmente rentável se for de grande produtividade e, rústico, tanto leiteiro, como de carne se for bem adaptado e com grande ganho de peso e produtividade, só conseguiremos isso se investirmos em cruzamentos buscando sempre essas duas qualidades, e hoje após muitos anos de pesquisa e investimentos temos esse diferencial e para se ter noção hoje a raça nelore, que é a minha paixão, exportamos esta raça para sua pátria de origem, a India, isso mesmo melhoramos a raça que buscamos da sua terra natal, isso só o Brasil foi capaz de fazer”, afirma.
Entretanto, segundo ele, o Estado de São Paulo até pouco tempo atrás produzia somente 20% do leite que consome. “Por isso o governo do estado alguns anos realizou uma reunião, em que eu participei, com a intenção de criar condições para diminuir essa dependência do leite , que vem de fora, aqui em Itapetininga podemos fazer a diferença, ou seja, voltar a ser uma grande produtora de leite que já foi no passado, por isso a Castrolanda, uma grande cooperativa do Brasil, na produção leiteira, instalou se aqui, hoje já envasamos 1 milhão de litros de leite diariamente, sendo que a maior parte ainda vem de fora, principalmente do Paraná, mas acho que com o tempo podemos voltar a ser grande produtora de leite, visto que o gado leiteiro não precisa de grandes áreas, e sim de ração no cocho, e a nossa região é uma grande produtora dos 2 grãos que compõe a ração a soja e o milho, e a cana de açúcar também, acho que é uma questão de tempo, é claro que o principal fator para se investir é a garantia ou pelo menos a certeza de que a minha produção terá mercado e preço que além de pagar os custos também de lucro, ninguém trabalha de graça, não é mesmo?”, afirmou.
Nesta conversa franca, proveitosa e reveladora, Dr. Mário explicou o termo” boi china’. ”Uma das coisas que aprendi com as minhas andanças conversando com os caboclos foi -boi china que é o boi com até dois anos de vida que é abatido e vai para China.” “Na minha última viagem que fiz para Europa, estive na Inglaterra e na Holanda, e vi como os europeus tratam bem os seus produtores rurais, eles têm toda produção mapeada, e quando há uma superprodução o governo paga os outros produtores para não produzir e quando ocorre o inverso, ou seja, uma queda na produção o governo estimula o produtor a produzir mais, no Brasil isso é impossível devido ao tamanho do país e a complexidade de fiscalizar os produtores e averiguar se estão investindo esse dinheiro liberado sem custo para aumentar ou diminuir sua produção. Outra coisa que aprendi, quando experimentei produzir grãos, foi chegar na casa do agricultor, onde você compra a semente, perguntar qual a semente que todo mundo está comprando e já está faltando, não compre, compre a semente que não estão comprando, pois a sua produção futura tem mais chance de ter um preço melhor”, disse na conversa. .
Ele continua a conversa. “Eu tenho duas história sobre doenças que não tinham no país e do nada apareceram aqui, o Brasil estava batendo recorde em cima de recorde na produtividade de algodão e os americanos ficaram preocupado que o preço do algodão não seria competitivo para eles, do nada apareceu o -bicudo- praga recorrente nos EUA, e o Brasil passou a gastar muito com herbicida para combater esta praga que até então não tínhamos no país, outro problema é mosca do chifre também recorrente na américa do norte, mas chegava até a américa central e não chegava a américa do sul, do nada apareceu a mosca no nosso rebanho e agora gastasse muito dinheiro com remédios para mitigar o problema que não acaba mais. Esta é uma guerra comercial que o mundo não pode mais se valer dela. Quem compra uma propriedade rural, seja grande ou pequena tem que ter uma visão empresarial, olhando custo benefício, pois gastasse muito para manter a terra e para se produzir é muito caro, hoje tem se donos de chácara mas para lazer, criar uma galinha, inclusive eu crio aqui na minha casa, é um hobby.
O médico e produtor também avalia os números de Itapetininga. “Temos a maior produtora de pintinhos de um dia na Granja Alvorada e poucos sabem que o frango não tem nada a ver com a galinha, ele é um híbrido, e sua genética é de domínio do Japão, ou seja, compramos as galinhas geneticamente modificadas que produzirão filhas que produzirão os frangos, e como temos um abatedouro de frangos aqui, a JBS, fechamos o processo de produção, criamos os pintinhos, engordamos, e abatemos, e melhor toda produção da JBS é para exportação, ou seja, não ficamos dependente das oscilações do mercado interno.
Voltando para a criação de ruminantes, ele fala sobre o avanço da tecnologia. “Hoje você tira o pelo com a raiz do boi, ou vaca, e envia via carta para o laboratório e em poucos dias você fica sabendo quem é o pai/mãe, com um custo de 20 reais por animal, e se você tiver uma ave que você tem dificuldade para averiguar se é macho ou fêmea, tira uma pena com a raiz e envia via carta para o laboratório ele te diz se é macho ou fêmea, ou seja, a genética chegou para facilitar o manejo e melhorar o seu plantel, ingênuo, para não dizer outra coisa, quem não utilizar as ferramentas hoje disponíveis, inclusive clona se uma vaca campeã ou um cavalo até com um custo baixo por volta de 200 a 300 mil reais, levando se em conta o valor dos pais que pode chegar de 4 à 6 milhões .
No final do bate-papo, ele fala sobre o potencial do país. “Acho que de 15 anos pra cá o Brasil descobriu que tem um tesouro que ninguém tem , que é o agro como modelo propulsor de sua economia, eu sou muito esperançoso no reconhecimento ao nosso produtor rural que hoje alimenta mais 1,6 milhões de pessoas, e o mundo hoje já reconhece o domínio do Brasil nesta área, e temos que ficar atentos aos interesses estrangeiros na Amazônia e em nosso território’, conclui.