Mineiro de nascimento e itapetiningano de coração, Edvaldo Mateus da Silva tem uma história de vida bastante curiosa e agitada. Aos 63 anos, o economista abriu as portas de sua casa, no alto da Vila Santana, para um bate-papo descontraído, acompanhado de um café preparado por ele.
Filho de Elviro Batista da Silva e de Eurides Mateus da Silva, é o nono filho de uma família de onze irmãos. Edvaldo lembra que uma das irmãs, Elaine, falecera no dia do primeiro aniversário, em consequência de uma meningite.
O entrevistado disse ter tido uma infância ótima e que o pai era mecânico, enquanto a mãe cuidava do lar e dos filhos.
Em 1979 ingressou na aeronáutica, onde diz ter vivido experiências incríveis, conhecendo armamentos diversos e sofrendo castigos por histórias pra lá de curiosas.
Determinado, cursou a Faculdade de Ciências Econômicas de Uberaba, concluindo a mesma no ano de 1987, estagiando naquela que segundo ele, era considerada a melhor fábrica de fertilizantes da cidade, a Fosfértil.
Silva não parou. Logo seguiu para Brasília, trabalhando no setor de seguros do banco Bradesco, até que decidira ser comerciante.
Em Uberaba o destino apresentou-lhe aquela que seria o amor de sua vida: a itapetiningana Mariza Cristina Moreira, com quem veio embora para a Terra das Escolas em maio de1994, ano em que trabalhou numa financeira e durante algum tempo manteve seu comércio na mesma Vila Santana.
Sobre a esposa, ela e sua família estavam morando na cidade dele por conta do trabalho de seu sogro, Dirceu Moreira, a serviço da Fepasa. “Foi lá que tudo começou”, lembra Silva.
Da união com Mariza nasceu Felipe Mateus Moreira Silva e de coração ganhou também como filho Luciandro Carlos de Almeida (Nando), tendo como netos Victor Lucas Biondo de Almeida, de 10 anos e Teodoro Morais Mateus, de quatro anos.
Aposentadoria
Encerrou a carreira profissional como agente penitenciário, tendo se aposentado no ano de 2012, bem antes do que previa, em decorrência da gradativa perda de visão.
Sem enxergar completamente há quatro anos, Edvaldo explica que sofre de retinose pigmentar (doença degenerativa da retina), presente também na vida de dois de seus irmãos, sendo Edilberto e Eusa, esta última falecida há pouco tempo.
O economista conta que foi perdendo a visão central, mas que conseguia enxergar pela visão periférica (canto dos olhos) e lembra entre risos quando os colegas de trabalho na penitenciária duvidavam de sua baixa visão. “Eu via pelos lados, mas não pela frente, então eles achavam que era brincadeira”, comentou Silva.
A vida no escuro e os desafios
Sobre a cegueira, Silva recorda que no começo ficou triste e desanimado e que no ano de 2014 conheceu o Ceprevi, entidade que frequentou durante quase dez anos.
“Aprendi a ter autonomia, a ler em braile”, conta, mas que ainda está desenvolvendo a sensibilidade dos dedos, o que segundo ele, “é questão de treino”.
Embora não dispense o método braile, ele diz preferir o que a tecnologia atual tem a oferecer para os deficientes visuais, como aparelho de celular com sistema falado, além de utilizar uma bengala com roller para se locomover fora de casa.
Momentos ruins
Edvaldo lembra que em 2020, chegou a entrar em pânico, sendo preciso fazer uso de medicamentos fortes por um curto período de tempo. “Não sei se pandemia influenciou”, lembra, relatando que a visão foi se apagando e que queria morrer. “Fiquei três meses sem sair de casa e emagreci 20 kg”, enfatiza.
De acordo com ele, para seu problema visual não há reversão, embora tenha conhecimento de tratamento através de células tronco e que chegou a procurar a UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo, mas que tudo é muito lento e até o momento nada de definitivo.
Trabalho Agro e momento atual
Apaixonado pelo Agro e tudo que o assunto envolve, Silva conta que há dois anos decidiu que precisava fazer alguma coisa para sair da rotina. “Estava dono de casa”, lembra.
Iniciava-se então uma série de atividades, como artigos para sites, aulas sobre Economia no Projeto Casa da Chapadinha e finalmente a instalação de um estúdio em sua casa para a realização de entrevistas, através de podcast, com transmissão ao vivo e também publicação nas redes sociais.
E assim Edvaldo conversou com José Carlos de Almeida (da JFI) e outros ligados ao Agro, incluindo um bate-papo com Flávio Rodrigues, o primeiro deficiente visual de Itapetininga a receber um cão-guia.