22 JUL 2020
REDAÇÃO
A ivermectina, usada para tratamento contra parasitas em seres humanos e animais, é tida como a nova medicação que irá curar – ou prevenir – a infecção contra o coronavírus. Mesmo sem nenhum estudo conclusivo comprovando a eficácia do remédio para tratar a Covid-19, a Prefeitura de Itapetininga comprou o medicamento para o tratamento de pacientes na rede pública – como antecipou o site Cidade Itapetininga na semana passada. Nesta semana, a entrevistada é a médica itapetiningana Mônica Guarnieri que fala sobre o assunto. Ela é diretora do Centro de Referência IST, HIV/AIDS e Hepatites Virais de Diadema, na Grande São Paulo, e atuou em projetos sociais do Programa Médicos Sem Fronteiras em países africanos, como Guiné e Moçambique.
“Acho uma pena o município comprar a Ivermectina, um medicamento que não tem nenhuma autorização científica para o tratamento do coronavírus. Nenhuma autoridade responsável poderia estar distribuindo medicamento que não tenha certeza do benefício para os munícipes. As autoridades públicas só deveriam estar utilizando de medicação comprovadamente benéfica, senão estarão se responsabilizando por todo e qualquer efeito colateral que possa advir do uso inadequado”, disse ela no início da entrevista.
Segundo a médica, até o momento não há estudos que comprovem a eficácia deste medicamento. “Ivermectina é um medicamento para piolhos e sarnas. Alguns trabalhos científicos até mostram que tem alguma utilidade in vitro, mas a gente não tem nenhuma certeza se na pessoa viva tem a eficácia ou não. É muito comum dentro da ciência que você tenha alguns medicamentos que tenham ativação in vitro, ou seja, no laboratório, mas na hora que você dá para o indivíduo, há muitos outros fatores, como anticorpos, vitaminas, hormônios e circulantes que acabam inativando a ação daquela medicação. E então na pessoa, a substância química não tem de forma nenhuma o mesmo resultado que teria no laboratório”, explica.
Ela acredita que a propagação da informação de que a Ivermectina pode curar pacientes com coronavírus pode culminar em automedicação, induzir alguns médicos a receitarem determinado medicamento mesmo sem a comprovação científica e trazer a falsa sensação de segurança àqueles que adotam o medicamento. “Agora, por conta dessa pandemia, como as pessoas estão muito desesperadas para dar alguma solução, acabam acreditando em qualquer coisa que escutam. Isso é extremamente perigoso. Ainda não temos trabalho científico comprovando a ineficácia, mas também não temos comprovando a eficácia. Eu como médica sou incapaz de prescrever substâncias químicas sem ter o mínimo de certeza que, na hora de pesar risco e benefício, estou causando benefício ao paciente e não um malefício”, diz.
Automedicação
Ela também mostrou preocupação com automedicação. “Da mesma forma considero irresponsabilidade comprar o medicamento por contra própria. Essa automedicação é muito deletéria, em todo os sentidos. É importante a gente lembrar que medicamento é uma droga. Toda e qualquer substância química tem efeito benefício ou malefício, risco e benefício”, afirma.
A médica afirma que o remédio mais eficaz hoje é o isolamento social. “O que de mais temos usado de sucesso contra o coronavírus é o isolamento domiciliar. Percebemos que os países, estados e municípios que estão tendo melhores atuações, são aqueles que fecharam as suas atividades, mantiveram os munícipes isolados, para manter o número de casos baixos e depois começaram um processo de relaxamento com um caso/controle muito bem estabelecido. E mesmo assim, quando possível essa liberação, é importante sempre o uso de máscara, álcool gel e distanciamento social”, diz.
Vacina
Segundo a médica, as pessoas só voltarão a sair à rua com segurança após o surgimento de uma vacina. “Até lá, acho que é muito importante que, principalmente as pessoas do grupo de risco, como idosos, aqueles que têm comodidades, mantenham-se no isolamento. Sei que não é fácil, sei da dificuldade de se manter isolado, mas infelizmente estamos de frente a uma doença para a qual não temos cura estabelecida”, conclui.
Prefeitura
A Prefeitura de Itapetininga informou que comprou um lote de Invermectina para atender o aumento da demanda pela medicamento, incluído no receituário de médicos e prescrita, de acordo com avaliação clínica, a pacientes que apresentam síndromes gripais com suspeitas de Covid 19. “Foi necessária a compra de um lote da medicação, para abastecimento da Central de Abastecimento Farmacêutico”, diz. Leia a nota completa.