27 JUL 2020
ANA MARIA BASILE
A covid 19 pode causar alterações neurológicas a longo prazo? Como se trata de uma doença recente a ciência está realizando estudos iniciais, mas já é certo que mesmo sem a carga viral circulante, alterações neurológicas e da imagem cerebral, incluindo encefalite, já foram descritas em pacientes internados com a doença. A encefalite é uma inflamação cerebral e segundo os neurocientistas ela pode causar alterações graves no funcionamento do cérebro no futuro. Pesquisas indicam que os efeitos neurológicos do vírus podem favorecer o desenvolvimento de Alzheimer, Parkinson e outros distúrbios neurodegenerativos ou neurológicos, desencadeados pela infecção.
Substâncias estressoras, liberadas pelo organismo durante a infecção de covid-19 são responsáveis pelo acúmulo da proteína TAO, responsável pelos emaranhados cerebrais causadores do Alzheimer, gerando o que vem sendo chamado chama de “um tsunami do aumento de doenças neurodegenerativas entre os sobreviventes”.
Estas substâncias estressoras chamadas citocinas, em grandes quantidades, acabam desencadeando processos inflamatórios, que aumentam também o risco de formação de placas gordurosas nas artérias sanguíneas, levando a ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais, condições que podem deixar sequelas para o resto da vida.
Mesmo a perda de olfato ou paladar, muitas vezes passageira, já é um indicador que o vírus atinge o sistema neurológico, pois atinge o bulbo olfatório, área olfatória primária do cérebro. A perda de paladar, um pouco menos frequente, se dá quando as células das papilas gustativas são afetadas. Porém, as células receptoras gustativas podem se regenerar de maneira mais rápida, em torno de 14 dias. Por isso, muitas vezes, o paladar acaba sendo recuperado antes do olfato.
Entre as principais complicações neurológicas também destacam-se a síndrome de Guillan-Barré, encefalopatias, meningoencefalite e Adem (acutedisseminatedencephalomyelitis) , uma doença desmielinizante do sistema nervoso central.
Alguns pesquisadores relatam, que em outras epidemias como a do Zika vírus, já ocorriam perdas de memória, mas não se deu atenção ao fato, pois a epidemia foi menor.
Então, há uma grande importância em estudar esses pacientes, acompanhá-los, com vários tipos de exames laboratoriais e avaliações cognitivas, para se observar a ocorrência de perdas relacionadas a funções de memória, atenção (falta de foco e concentração para atividades), executivas e comportamentais, sendo muito importante o diagnóstico precoce destes sintomas para que sejam tratados e entendidos.
Ana Maria Basile é psicóloga do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP). Formada em psicologia (PUC-SP) e em neuropsicologia (USP). Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental.