Assessor científico sênior da Fundação Oswaldo Cruz/Bio-Manguinhos, Akira Homma é uma das 50 pessoas mais influentes do mundo quando o assunto é vacina. Formado em medicina veterinária pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro (onde chegou no começo dos anos 60), ingressou na Fiocruz para trabalhar no laboratório de Poliomielite do Departamento de Ciências Biológicas da Fundação Escola de Saúde Pública.
Homma possui doutorado em ciências pelo Baylor College of Medicine, em Houston, Texas, Estados Unidos. Ele também foi responsável pela estruturação do Instituto de Tecnologia em Imunológicos da Fiocruz (conhecido como Bio-Manguinhos) e atuou para celebrar convênios internacionais visando a produção de uma vacina oral contra a poliomielite, entre outros imunizantes.
O trabalho de Homma lhe rendeu o reconhecimento da classe científica; ele também conquistou inúmeros prêmios; em 2014, ele foi eleito uma das 50 pessoas mais influentes do mundo na produção de vacinas.
O que pouca gente sabe que Akira Homma morou e estudo em Itapetininga entre 1946 e 1958, quando a família mudou-se, vindo de presidente Venceslau, no extremo oeste paulista. Nesta entrevista exclusiva ao Cidade+, o cientista lembra com carinho do período em que conviveu com os itapetininganos. Ele também fala sobre a importância das vacinas e como elas são produzidas. Conheça agora um pouco da história deste cientista.
“A minha família chegou na região de Itapetininga ao redor de 1946 e o meu pai dedicou-se inicialmente ao cultivo do milho, batatinha, etc. Estudei os dois primeiros anos do primário em uma escola rural na região de Alambarí. E com mudança da minha família para a cidade de Itapetininga, completei o primário do Colégio Aderbal de Paula Ferreira. Completei o ginásio e o científico no Instituto Peixoto Gomide, em 1958. Eu ainda me lembro de alguns professores, como o Prof. Glacus de Português, Salem de Matemática, Cecília de Ciências, Placco de Química… Bons tempos”, diz.
O cientista nasceu em 12 de agosto de 1939, em Presidente Venceslau, São Paulo e graduou-se em medicina veterinária em 1967, na Universidade Federal Fluminense (UFF). De 1969 a 1971, com bolsa da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), estudou no Baylor College of Medicine, Houston, e em 1972 obteve o grau de Doutor em Ciências pelo Departamento de Medicina Preventiva, na Faculdade de Medicina da USP.
Vacina: a grande arma contra as doenças
O jornal Cidade+ entrevistou o o assessor científico sênior da Fiocruz/Bio-Manguinhos, Akira Homma,sobre a vacina contra a Covid-19. Segundo ele, para se iniciar o processo de fabricação de vacinas é necessário que as mesmas sejam registradas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ele destaca ainda que “toda instalação fabril, equipamentos, os processos de produção e controle de qualidade precisam ter aprovação da ANVISA”.
Homma explica ainda que “os processos de produção de vacinas variam de acordo com o produto final: se a vacina é viral ou bacteriana. Tanto as vacinas virais como as bacterianas envolvem inúmeras etapas de produção da massa viral ou bacteriana, inativação ou não, purificação, formulação, envase e finalização com controle de qualidade e empacotamento”.

Etapas
Ainda de acordo com o pesquisador, “no processo de produção de vacinas virais, a primeira etapa de produção da massa de vírus vacinal, em geral, envolve a cultura de células in vitro. As células utilizadas para cultura in vitro podem ser de cultura primária, ou seja, derivada diretamente de um órgão de um animal doador; ou linhagem celular, que são células adaptadas para cultura em passagens em laboratório. Existem várias linhagens de células autorizadas para a produção de vacinas. Uma das mais conhecidas é a célula VERO. Estas células podem ser cultivadas de forma estática, como em multi-placas, ou em tubos rotantes ou mesmo em biorreatores, cujos volumes chegam a 3.000 litros ou mais”, afirma Homma.
Ele lembra ainda que “as vacinas virais podem ser de vírus vivos atenuados como nos casos de sarampo, rubéola, caxumba, rotavírus, poliomielite (tipo Sabin), febre amarela; ou podem ser de componentes do vírus como é a vacina da influenza e a vacina COVID-19, que utiliza as proteínas da espícula do vírus (S=spike). Podem ainda ser de vírus inativados, como as de raiva, poliomielite inativada (tipo Salk), vacina COVID-19 inativada (CoronaVac); ou podem ser recombinantes, utilizando um vetor onde é inserido o gene de interesse, que é o caso da vacina da Hepatite B, produzida em levedura”.
Vacinas bacterianas
“No processo de produção da massa de vacinas bacterianas, em geral é realizada em biorreatores, cujo volume pode chegar a 3.000 litros ou mais. A massa de bacteriana é purificada, inativada, a vacina formulada e envasada, seguida de finalização com controle de qualidade e empacotamento. As vacinas bacterianas podem ser de bactérias vivas atenuadas como a BCG, inativadas como a pertussis, e de toxóides como o toxóide diftérico e tetânico. As vacinas mais modernas são conjugadas, ou seja, o polissacarídeo da capa bacteriana purificada é conjugado à uma proteína modificada do toxóide tetânico, diftérico ou de outra proteína. São as vacinas de pneumococos 10 valentes, a vacina da meningite menigocócica, SG C, e outras. Todas as vacinas citadas fazem parte no calendário de vacinação do PNI”, afirmou o assessor científico, lembrando que as vacinas “precisam ser registradas na Anvisa”.
O assessor científico sênior da Fiocruz revela também que “Bio-Manguinhos/Fiocruz produzirá seu próprio IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) ainda no segundo semestre deste corrente ano. O país contratou o fornecimento de outros 46 milhões de doses pelo programa COVAX, da Organização Mundial da Saúde, e fechou o contrato para fornecimento de 100 milhões de doses da vacina Pfizer até o final do ano. Não havendo imprevistos neste planejamento, haverá vacina suficiente para vacinar toda população brasileira maior de 18 anos ainda no corrente ano”.








