02 MAR 2021
MARCO VIEIRA DE MORAES
Distante cerca de 40 km do centro de Itapetininga, o distrito do Rechã, localizado próximo à Raposo Tavares, surgiu com a chegada da ferrovia, na primeira metade do século passado.Segundo Araugo Araújo, presidente da Associação de Moradores do Distrito de Rechã (AMDR), o distrito surgiu “tendo como base a chegada da estrada de ferro e a construção da estação ferroviária, em 1907. Atualmente, o antigo prédio da estação abriga o centro comunitário e cultural do distrito”, informou Araújo, acrescentando que o imóvel está passando por uma reforma (a segunda em sua história), realizada através de parcerias com empresas instaladas no distrito e prefeitura de Itapetininga.

Araújo conta que o distrito cresceu bastante, contando com cerca de nove mil habitantes atualmente. “as empresas também cresceram, assim com as necessidades da comunidade”, observou o presidente da associação.
Segundo ele, o distrito responde por 12% da arrecadação do município. De acordo com dados da prefeitura, Itapetininga teve uma receita líquida de R$ 450.846.076,45 em 2020.
Desse total, mais de R$ 54 milhões teriam sua origem no distrito, onde estão instaladas grandes indústrias, como Citrosuco, Suzano. JFI e Grupo Alvorada. A reportagem encaminhou e-mail para a prefeitura, visando confirmar os dados, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria.

Problemas
Araújo afirma que, até há algum tempo, a comunidade sentia a falta de mais investimento público no distrito. “Mas agora, com esses novos vereadores eleitos pela comunidade, isto mudou. São pessoas que estão empenhadas em trazer o desenvolvimento pra cá”. Ele destaca: “as pessoas daqui entenderam que era importante votar em pessoas capacitadas, tanto que elegemos dois representantes, e o poder público (prefeitura) entendeu que devia investir aqui”.
O presidente acrescenta ainda que as empresas aportam recursos na associação, para o desenvolvimento de projetos nas áreas esportiva, cultural e social. “Não são só as empresas grandes, as pequenas também investem aqui”, afirma, ressaltando que “o importante são as parcerias que temos, não só com as empresas, mas também com a prefeitura. Eu acredito que isso vai melhorar o Rechã”.
Araújo afirma ainda que “como em todo lugar, falta tudo no bairro, porque o poder público não consegue atender todo mundo. Nós temos um posto de saúde novo, recém-inaugurado pela prefeita, com estrutura muito boa, mas falta investir em pessoal (para trabalhar no posto). Parece que isso agora vai começar”.
Na questão de segurança, ele explica que “agora temos um vereador envolvido com a questão (George Araújo, irmão de Araugo) e ele já está trabalhando e as coisa já estão acontecendo; no esporte também temos uma parceria com a Citrosuco, daqui a alguns dias teremos novidades nessa área também, com a ajuda do vereador Matheus. Agora, com relação a um posto bancário, precisa ter segurança, sem segurança ele não vem. E agência bancária só se instala em município”. Araújo lembra que, quando havia um caixa eletrônico no distrito, “veio um pessoal do mal aqui e explodiu tudo”. Segundo ele, os trabalhos que residem no distrito precisam se locomover até Itapetininga (40 km de distância) ou Angatuba (22 km) para sacar os salários ou fazer outros serviços bancários.
“Isso reflete no comércio daqui; se a pessoa recebe o salário aqui, ela gasta aqui. Agora se ela vai para outra cidade, gasta lá”, disse Araújo, acrescentando que “isso deixa de fortalecer o nosso comércio; é a nossa grande dificuldade”. Segundo ele, são poucos os que compram no comércio local; “a maioria compra em Itapetininga”. O distrito conta com duas escolas: uma municipal e uma estadual, “muito bem estruturadas, com pessoas competentes e proativas na direção”, conta Araújo.
Na parte agrícola, o presidente da associação afirma que “foi recentemente inaugurado o apiário da Associação de Apicultores, que exporta sua produção de mel. Temos a Citrosuco (laranja), Suzano (Silvicultura) e o grupo Alvorada, que só no incubatório aqui do Rechã dá emprego para 400 pessoas”. Segundo Araújo, o incubatório recebe cerca de um milhão de ovos por noite, volume oriundo das fazendas do grupo espalhadas por toda a Região. “A meta é chegar a 1,5 milhão”, conta Araújo

Emancipação
Araújo afirma ainda que o distrito não pensa em se emancipar, mas que já houve um movimento pela emancipação no passado. “Isto acontece quando a comunidade não tem um bom relacionamento com o Poder Público, mas este não é o caso agora. Hoje temos um bom relacionamento com a administração municipal”.
Morando no distrito há quase 60 anos, Araújo (que é filho do ex-vereador Gentil Araújo), esclarece que “sempre houve o desejo de emancipar, mas hoje isso é difícil. Em 1994, quando aconteceu a emancipação de várias localidades, o Rechã e a Holambra (Paranapanema), não foram emancipados. Por que? A arrecadação deles é boa! E a política na época não era favorável a emancipação. Então pesou muita coisa no sentido de não emancipar”.
Atualmente, segundo o presidente da AMDR, o pensamento é outro: “a gente quer apoiar o poder público para que a que a gestão municipal invista aqui, independente se quer emancipar ou não. Porque a gente pensa em emancipar quando não está sendo bem atendido pelo poder público e hoje temos um bom relacionamento com a prefeitura. Agora somos bem atendidos”, enfatiza Araugo Araújo.
Finalizando, ele diz que gosta de morar no distrito, onde passou praticamente a vida inteira. “Quando o poder público está presente, tudo vai bem, mas quando ele não consegue estar presente em muitas situações, é complicado. A gente sabe disso. Tem pessoas que gostam daqui e tem pessoas que não gostam. Aqui é lugar de trabalho, não é lugar de passeio”, afirma Araújo.