21 JUL 2020
Por Eunice Granato
Sou Eunice Ferreira Rodrigues Granato, advogada na área de Direito de Família e também professora universitária.
Tenho 83 anos de idade e, no mês de março, ainda com 82 anos fui contaminada com o Covid-19, juntamente com mais dois membros da minha família, o meu marido Rafael Domingos Granato, magistrado aposentado, de 87 anos, com quem sou casada há 61 anos. Também adoeceu a minha filha Paula Rodrigues Granato, professora no curso de Comércio Exterior da Fatec de Itapetininga.
As notícias que tínhamos sobre o Covid-19 eram aquelas transmitidas pela mídia escrita e televisiva. Parecia ainda distante da preocupação do Brasil. Sentíamos pena em ver o que se passava na China e na Europa.
Então, em meados do mês de março, sem saber como ocorreu a contaminação, tivemos sintomas semelhantes, todos ao mesmo tempo: febre, cansaço, sonolência, um pouco de tosse, dores pelo corpo e falta total de vontade de comer. A orientação recebida foi que só deveríamos procurar atendimento hospitalar se tivéssemos falta de ar. Esperamos quatro ou cinco dias e como a febre do Rafael estava alta, nosso filho Roberto nos levou para o Hospital Evangélico em Sorocaba, que o nosso convênio cobria. Logo ao chegar fizemos tomografia e foi constatado que os nossos pulmões apresentavam sinais do Covid-19. Fomos internados, os dois no mesmo quarto, mas logo no dia seguinte, apesar dos meus protestos, ficamos em quartos separados e dois dias depois, Rafael foi para a UTI e logo foi entubado.
A nossa filha Paula no dia 30 de março precisou ser internada no Hospital da Unimed, aqui em Itapetininga, onde permaneceu dez dias e teve alta.
Eu permaneci onze dias hospitalizada no Hospital Evangélico em Sorocaba. Não fui para a UTI, mas tinha um tratamento muito intenso com antibióticos, talvez hidrocloroquina e muita dedicação da equipe médica, de enfermagem e fisioterapia. Tomava soro dia e noite e os exames, muitos deles dolorosos, eram constantes. A minha impressão era que a vida estava sendo arrancada de mim: impossibilidade de me alimentar (muito diferente de falta de apetite); eu chorava na frente da comida e não podia comer; extenuação, falta total de forças, difícil de descrever: eu pedia o guindaste de Deus para me levantar do lugar… A médica que mais me atendia, Dra. Paola Renata Brandão Canineu, me dizia que a doença ainda era desconhecida e todos estavam aprendendo a lidar com ela.
Lá pelo nono dia de internação senti alguma melhora e no décimo primeiro dia a médica perguntou se eu queria ir para casa e eu respondi que nem sabia se queria, porque a minha preocupação era com o meu marido que permanecia em estado grave na UTI e com a minha filha que continuava internada no hospital em Itapetininga. Tive alta, voltei para casa e, logo no dia seguinte a minha filha também saiu do hospital e ficamos juntas em isolemento, em nossa casa.
Rafael, meu marido, depois de cinquenta dias no hospital, dos quais, a maioria na UTI e treze dias entubado, também teve alta e veio se recuperar em casa. A recuperação dele foi considerada milagrosa pelos médicos. Eu sinto que as orações da família, dos netos, dos amigos, as missas do Padre Mário e do Padre Júlio, os pedidos fervorosos da Maria Dolores e a crença na recuperação dele foram decisivos! Quando ele chegou, dez quilos mais magro, abatido, sem conseguir andar, minha filha bem triste, comentou com o prof. Frederico, amigo dela na Fatec, sobre o estado dele e o comentário dele foi animador, dizendo que o guerreiro quando VENCE uma batalha volta para casa ferido, abatido, com a armadura amassada e depois se recupera. É um vencedor! Foi verdade.
Rafael não se lembra de NADA! Está com ótima memória, declama Camões, sabe de tudo, mas não se lembra nem de ter ido para o hospital. Apagou esse período, que não é mesmo nem um pouco agradável de ser lembrado!
Ele está recuperado, com a graça de Deus e recebendo os cuidados decisivos para a sua recuperação da médica geriatra Dra.Marcelle Gattazz Ayub. Igualmente a fisioterapeuta Ailen e também a Daiane ainda tratando dele e de mim fazem importante parte dessa recuperação. Também tenho que falar do excelente trabalho do enfermeiro Giovane que, por quase dois meses fez curativos diários nas costas do Rafael. Ele se tornou um amigo nosso. Devo me lembrar também da nutricionista Tati e da fonoaudióloga Paula, que nos deram suporte nos primeiros dias. É tanta gente para agradecer…
A partida de Rafael para a vida eterna teria sido uma perda irreparável para a nossa família, porque ele é a nossa viga mestra, marido, pai, avô e companheiro de toda a vida.
Temos quatro filhos: Rafael, João, Roberto e Paula. Cinco netos: Letícia, Pedro, João Vitor, Luiza e Laura. E três noras: Valéria, Patrícia e Ana Paula.
Tenho dificuldade em compreender o fato de nós três termos tido as nossas vidas poupadas, quando tantas pessoas têm partido para a vida eterna nessa terrível pandemia! É surpreendente! Como agradecer a Deus? Como aproveitar a prorrogação de vida que Ele está nos dando? Ainda não tenho as respostas.
Agora só louvamos e agradecemos a Deus.
Recado para quem não teve o Covid-19: Siga as recomendações médicas, fique em casa em isolamento e acredite que essa doença é grave.