11 AGO 2020
EVERTON DIAS
Na linha de frente contra o coronavírus, estão os profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, farmacêuticos, atendentes, encarregados da limpeza e demais funcionários do hospital na cidade.
Durante horas dedicados ao trabalho, esses heróis põem em prática o conhecimento para salvar vidas, a atenção contra o sofrimento humano, a técnica a serviço da informação e a higiene como arma para impedir o avanço do inimigo invisível.
O site Cidade Itapetininga perguntou para quatro profissionais do Hospital Léo Orsi Bernardes (HLOB), como tem sido o trabalho no combate ao vírus na cidade, de que forma afetou a vida de cada um e como tem sido voltar para casa após um longo dia de trabalho no hospital.
Eles confessam medo, insegurança e apreensão com o avanço da doença. Eles não temem apenas o próprio contágio, mas também a transmissão para a família – o que faz mudar até a rotina dentro de casa.
Os depoimentos foram coletados pelo analista de comunicação do HLOB, Fábio H. Santos Molina, que também atua na linha de frente e faz um importante trabalho para atender os veículos de comunicação com informações precisas neste momento tão difícil.
“Houve um desgaste emocional da equipe depois que começamos a vivenciar mais mortes”, diz a administradora Artemizia Bertolazzi Martins
“O trabalho da administração do hospital, nesses momentos de pandemia, tem sido muito desafiador, pois precisamos reinventar tudo que havíamos feito até hoje, desde a gestão de estoque, gestão de leitos, mudanças de fluxos e readequações de equipamentos. Mas o mais desafiador foi a gestão de pessoas, pois realmente nos deparamos com um desgaste emocional da equipe depois que começamos a vivenciar mais mortes e o medo do desconhecido.
Neste momento, foi necessário que a gente também tivesse um olhar para as pessoas que estão na linha de frente. Graças a Deus, conseguimos montar uma equipe de acolhimento do nosso pessoal, para que a pudéssemos realmente dar esse suporte emocional.
A vida de quem está na linha de frente foi afetada como a de qualquer outro cidadão. Saímos do trabalho exaustos, temos pouco tempo para ficar com a família e perdemos aqueles momentos de lazer que tínhamos, como para fazer visitas, almoço familiar, ou até mesmo ir no cinema e restaurante. Quando tiramos essa parte de lazer, acabamos ficando afetado porque o estresse aumenta muito. Mas Graças a Deus, a gente percebe que a equipe ficou muito unida. Todos comemoramos a vitória atingidas aqui, conseguimos driblar várias situações de estresse e dificuldade.
A mensagem que gostaria de passar para as pessoas é que tenhamos fé que isso vai passar e que nos tornemos pessoas mais conscientes para enfrentar a vida e entender o valor que temos que dar a cada coisa e o que realmente importa para cada um. Temos que nos cuidar muito para passarmos por isso rapidamente, mantendo a nossa saúde física e emocional”.
“Existe uma sensação de vigilância contínua para se proteger e também não contaminar os outros”, relata a coordenadora do setor de limpeza
“Apesar da dificuldade para se adaptar às demandas urgentes e diferentes de nossa rotina, temos feito o melhor para combater e tornar o ambiente protegido limpo e esterilizado para os profissionais do hospital e para os pacientes. A rotina tem sido puxada e muitas vezes desgastantes. Nos reinventamos e demos conta e isso é muito satisfatório, pois é a sensação de dever cumprido.
Neste período, me deparei com desafios antes não enfrentados e no começo foi um pouco assustador. As mudanças de horário também demandaram readaptação da rotina que tínhamos antes. Um trabalho mais excessivo, com mais cuidados também. Existe uma sensação de vigilância contínua para se proteger e não contaminar-se e também não contaminar os outros.
Apesar de muitas vezes exaustivo e com um pouco de medo, tanto ao transmitir para as pessoas do meu lar, como dos desafios que posso enfrentar nos dias seguintes, há a sensação de dever cumprido. Por isso sempre agradeço por tudo que tem dado certo e pela minha saúde e de familiares.
Temos que passar por isso com mais fé, senso de coletividade, pensando sempre no próximo. Vamos passar por isso e, se Deus quiser, vamos também nos tornar pessoas melhores”.
“Nosso trabalho está sendo bem pesado, vendo o sofrimento das famílias”, diz enfermeiro
Está sendo muito difícil para todos que atuam na linha de frente. Já estou há 27 anos na enfermagem e nunca passamos por isso. Nosso trabalho está sendo bem pesado, vendo o sofrimento das famílias. Mas estamos lutando e vencendo esta pandemia.
Minha vida teve uma alteração em rotinas simples como não poder ir ver minha mãe se distanciar de meus filhos e amigos. A volta para casa muito é gratificante. Agradeço a Deus por poder chegar em casa bem .
Tomem cuidado, cuidem-se, usem máscaras, lavem as mãos e não façam aglomeração. Essas são medidas essenciais”.
Vejo que, de alguma forma, a minha profissão está contribuindo para minimizar o sofrimento emocional dos pacientes, diz psicóloga
“A rotina tem sido bem puxada e muitos pacientes para serem atendidos. Temos buscado alguma forma de amenizar o isolamento dos pacientes e dos seus familiares. Venho fazendo as videochamadas para as famílias e também tivemos as cartinhas. Temos buscado alternativas.
Voltar para as nossas casas também não é fácil, pois ficamos muito preocupados com medo e receio de levar a doença para família. Mas é gratificante, pois cada vez que entro, seja no isolamento ou na UTI, para fazer o atendimento aos pacientes, vejo que de alguma forma a minha profissão está contribuindo para minimizar o sofrimento emocional deles. Também quando posso ajudá-los a ter contatos com seus familiares, já acho que vale a pena tudo o que temos vivido de estresse e cansaço no nosso dia a dia.
A mensagem que gostaria de deixar é que as pessoas reflitam um pouco, pois quando falamos para ficar em casa não é para sair para trabalhar ou não fazerem nada, mas sim para saírem quando é realmente necessário”.