15 ABR 2021
REDAÇÃO
São 7 horas da noite e no Atende Fácil do Paço Municipal de Itapetininga segue mais uma etapa da vacinação contra a Covid-19.
Idosos com 66 anos ou mais estão recebendo a primeira dose da vacina e a fila de carros no drive-thru rapidamente se desfaz com o ritmo acelerado da imunização.
No intervalo para o lanche, encontramos a técnica de enfermagem Edith Bailoni Travassos Pareja, de 53 anos, 30 deles dedicados à saúde.
Os paramentos de proteção não escondem o sorriso de Edith, nem tão pouco, a impedem de mostrar seu entusiasmo na conversa com as colegas que já estão prontas para retornar à linha de frente da imunização. Na campanha de vacinação contra a Covid, ela faz parte da equipe de aspiração das doses que serão aplicadas.
Impossível não prestar atenção ao bate-papo. O relato da técnica, mais que um breve momento de descontração, esclarece dúvidas e revela a importância de se tomar as duas doses da vacina.
Entre os 0,55%
Edith é um dos 19 casos registrados em profissionais de saúde de Itapetininga que contraíram a Covid-19 mesmo após tomar a primeira e segunda doses da vacina, em um universo de 3.430 vacinados. Ou seja, Edith integra o restrito grupo de 0,55% profissionais de saúde diagnosticados com Covid após tomar as duas doses e, felizmente, entre os 100% desses profissionais que não necessitaram de internação.
“Algumas pessoas pensam que ao tomarem a vacina, elas ganham um ‘passaporte’ e não correm mais risco de pegar Covid. Até falam que agora já podem voltar à vida normal. Não é assim. Você pode pegar a doença, sim, mas de forma mais branda e, inclusive, pode até transmitir”, explica.
A técnica conta que não sabe como contraiu a Covid, mas que o fato pode estar relacionado à sua rotina de trabalho na saúde, na sala de vacinas da Unidade Básica de Saúde “Dr. Genefredo Monteiro”, na área central da cidade. – “Tomamos todas as medidas sanitárias e de distanciamento, mas o fluxo de pessoas é muito grande”.
Os sintomas
Como profissional da linha de frente, Edith recebeu a primeira dose da vacina em 05 de fevereiro e a segunda, no dia 26 do mesmo mês. No dia 15 de março foi diagnosticada positivo para a Covid-19 após apresentar mal-estar, dores de cabeça, no corpo e no fundo dos olhos, sintomas que a princípio, foram confundidos com os da dengue, possibilidade descartada depois da testagem negativa.
“Embora eu não tenha doenças pré-existentes, sou fumante e, pela minha experiência, posso afirmar que o tabagismo é fator de risco para a Covid-19. Devido a um possível comprometimento da capacidade pulmonar, o fumante possui mais chances de desenvolver sintomas graves da doença, mas, graças à vacina e a Deus, eu não tive nenhuma complicação pulmonar e minha saturação ficou sempre entre 98 e 99”, destaca e complementa – “O que senti foi uma dor no corpo, nas juntas e no fundo dos olhos muito forte”.
Dez dias depois do diagnóstico positivo, em tratamento domiciliar, Edith estava curada. Como sequela, as dores nas juntas do corpo que, embora causem um certo desconforto, não a impedem de trabalhar na linha de frente da imunização.
A cura, a família e as perdas
A técnica de enfermagem conta que durante sua recuperação, se manteve isolada do marido e dos dois filhos que moram na mesma casa.
“Felizmente, eles não pegaram. Essa era minha preocupação. Meus outros três filhos e mais sete pessoas da família tiveram Covid. Graças a Deus, não perdi ninguém”, ressalta com alívio.
Edith faz uma pausa na conversa, respira e completa.
“Um desses familiares foi minha sobrinha de 28 anos. Ela estava grávida e ficou internada no HLOB por 14 dias. Não teve que ser intubada, mas precisou de oxigênio. Se curou, teve alta, o bebê já nasceu e ambos estão bem de saúde”.
No decorrer de mais de um ano de pandemia, Edith relata que já perdeu mais de 50 pessoas, entre amigos e conhecidos, vítimas da Covid, e destaca, mais uma vez, a eficácia da vacina.
“Sem a vacina, tenho certeza que não sobreviveria. A vacina salvou minha vida. Três amigos meus, com as mesmas condições de saúde, fumantes inclusive, e que ainda não tinham sido vacinados não resistiram”.
O exemplo
A experiência de quem superou a doença e hoje trabalha, cheia de orgulho, junto aos mais de 200 profissionais que auxiliam nos dois pontos de vacinação contra a Covid-19, no Atende Fácil da Prefeitura e no Ginásio Ayrton Senna, deixa uma mensagem a todos que ainda relutam a se vacinar.
“Quem ama protege a si próprio e ao próximo. A vacina é muito importante. Não dá para acreditar que ainda exista pessoas que deixem de procurar, ou porque simplesmente não quer, ou porque tem medo de alguma reação. A reação da Covid é muito pior do que de qualquer reação de vacina e falo isso porque senti na pele. Não tomar a vacina é como uma Roleta Russa, ninguém sabe como irá reagir, e a melhor aposta é sempre a vacina ”, conclui emocionada.