12 SET 2020
JOVIR FILHO
Uma pergunta incomoda-me ao longo de minha experiência na educação: por que falhamos tanto na escolarização do conhecimento?
São doze anos de escolarização para que nossos alunos saiam quase com o mesmo conhecimento que teriam caso não tivessem passado este tempo nos bancos escolares. Se pensarmos em termos práticos, em formação para a vida, a sensação de fracasso é ainda maior, pois as pessoas não constituem conhecimento para entender, por exemplo, a gravidade e os protocolos de uma pandemia como a que estamos vivendo. Aliás, informações sem crivo e notícias falsas acabam sendo mais efetivas, num desserviço em relação ao que a escola aparentemente tentou fazer nos seus anos de possível ensino.
Mas você pode questionar-me que não podemos generalizar e há muitos exemplos que desmentem o que afirmo acima. De fato, temos uma parcela que atinge, inclusive, grande conhecimento — cada vez mais em declínio, é certo —, mas não é esta parcela a média, tampouco pode representar aqueles que ocupam os desempenhos mais baixos. É sempre conveniente, e o sistema privado sabe disto pelo menos desde a década de 1980, propagandear com alunos de melhor desempenho e fazer crer que são o modelo da Educação, no entanto, na verdade, isto é embuste, pois os alunos com maior dificuldade que são a Educação real, em si. Levar um aluno com dificuldades a superá-las e transformá-las em conhecimento é o princípio pleno educacional, porque ser bom professor ou boa escola para bom aluno não é mérito algum, ao contrário, é apenas uma conveniência, um faz-de-conta, antítese, neste caso, do processo de ensino-aprendizagem.
Imagino que o incômodo não seja apenas meu, entretanto, o que a ciência têm trazido de descoberta na área de neurociência pode nos ajudar a compreender este insucesso da escolarização, já que nossa mente precisa de contexto para aprender e estratégias específicas para fixar, guardar na memória um conhecimento, aliás, estratégias específicas para tornar uma informação em conhecimento. Por exemplo, à medida que confiamos ao caderno as anotações mais importantes de uma matéria, qual a razão para que a mente registre e guarde tal informação? E, sem guardar informações, como transformá-la em conhecimento dando contexto ainda que abstrato?
Nesta já frágil relação do conhecimento, que é um caminho cerebral, uma sinapse ou uma série delas, a tecnologia, sobretudo o smartphone, realiza um papel que tanto pode ser potencialmente bom, mas que, até aqui, tem sido muito mais danoso. O conhecimento do professor, formado nos moldes enciclopedistas repaginados do século XX, não alcança o potencial de uma busca na Internet, nem mesmo consegue ser atrativo como os inúmeros links que se abrem ao aluno sobre um determinado tema. Acontece, porém, que este aluno, hoje, pesquisa mais sobre seus interesses de lazer e diverso do foco dado pela escola. E acaba por saber muito sobre seu filme preferido, com detalhes inimagináveis sobre personagens, atores, trilhas, enredos, num espaço mental que, daí, não cabe o que a escola de forma descontextualizada oferece.
E, infelizmente, neste sentido, mesmo os materiais didáticos mais novos são desatualizados e fora de interesse. É preciso reconhecer que o aluno e todos os envolvidos vivem em 2020, caminhando num século XXI plenamente tecnológico.