07 jul 2020
Marco Vieira de Moraes
Nascida da devoção a Santa Ana, a Vila Santana, no final da avenida Peixoto Gomide, surgiu como uma vila operária, composta por funcionários da Companhia Soares Hungria, cuja fazenda, com aproximadamente 3 mil alqueires, estendia-se desde o atual distrito de Morro do Alto até a Vila Regina. A empresa atuava na produção e beneficiamento do algodão, óleo e também fornecia energia elétrica para as casas de seus funcionários, coisa rara na época.
“A energia era fornecida por um gerador a diesel”, afirma o ambientalista Luiz Moreira Júnior, nascido, criado e ainda morador da comunidade. “Essa era a única fonte de energia elétrica na cidade, observa Luizinho Moreira. Segundo ele, a vila já existia antes da inauguração da Escola Peixoto Gomide, em 1894.
A localização do bairro e da indústria tinha uma razão de ser: a proximidade com o Ribeirão dos Cavalos e a enorme quantidade de nascentes que existiam – e ainda existem – na comunidade e abasteciam o ribeirão, cuja água era utilizada pela indústria e pelos funcionários em suas residências.
Incêndio
Tudo ia bem para a empresa e seus operários quando, em 1909, um incêndio que parecia “impossível de se debelar” atingiu o depósito da companhia, onde hoje é a antiga garagem da Viação Cometa.
“Quando seu Acácio e seu Alcindo (Soares Hungria) foram verificar a extensão do prejuízo, tiveram uma grande surpresa”, conta Luizinho Moreira. Segundo ele, que ouviu o relato do próprio Acácio, os empresários estavam preocupados, acreditando que haviam perdido toda a safra de algodão, que estava armazenado em fardos. “Chegando ao local, notaram que o fogo queimou apenas metade do galpão”, relata Moreira, “para espanto deles, as chamas pararam onde havia uma capelinha de Santa Ana, que era de devoção da família”.
Ainda segundo Moreira, agradecidos pelo fenômeno, os empresários reservaram no alto do morro, após o Ribeirão da Serra (hoje Ribeirão dos Cavalos), uma área onde foi erguido um cruzeiro, que passou a ser frequentado pelos funcionários da companhia. “Os trabalhadores moravam aqui embaixo, onde hoje é a rua Francisco Correa Franco”, explica Luizinho Moreira.
Com o tempo, uma capela foi erguida no local e residências foram sendo construídas em volta. Primeiro, foram os trabalhadores da Cia Soares Hungria, que erguiam suas casas em áreas doadas pela empresa, que fornecia também os tijolos para a obra, todos identificados pela letra H.
“Os tijolos eram fabricados pela olaria do tijuco preto, que também pertencia à família Hungria. Instalada ao lado do ribeirão, a olaria tinha uma roda d’água que retirava a água do ribeirão para a indústria e também para os moradores”, afirma Luiz Moreira Júnior. Logo, vieram os funcionários da ferrovia, que vinha desde o Morro do Alto até onde hoje é a antiga estação da Fepasa (foto). Finalmente, vieram os integrantes do 5º Batalhão de Caçadores, entre eles, Luiz Moreira, pai de Luizinho.
Durvalino Toledo
Descendente de escravos e funcionário da olaria, Durvalino Toledo foi um dos primeiros moradores da vila e uma de suas principais lideranças. Combatente na Revolução de 30, ajudou a fundar a Associação dos Amigos de Vila Santana e o extinto clube 13 de maio. “A família Toledo trouxe a cultura afro, o samba e o futebol para a comunidade”, afirma Luizinho, lembrando que Durvalino Toledo também criou a Escola de Samba Escurinhos da Cidade, a primeira agremiação do tipo em Itapetininga e que hoje se chama Aristocratas Samba e Cultura. A comunidade continuou a crescer e se fortalecer com a chegada de imigrantes, como as famílias Gehring (que possuía um curtume) e Kupper, que se instalaram nas proximidades do que hoje é a vila Olho D’água.