05 AGO 2020
MAURÍCIO HERMANN
Bairros-opacos e bairros-luminosos são alusões ao que o professor de Milton Santos (1996) chama de territórios opacos e territórios luminosos. Em resumo significa que estes bairros apresentam maiores ou menores problemas relacionados à existência de estruturas públicas e privadas para proporcionar qualidade de vida aos moradores.
Estes novos bairros não contêm ou apresentam parcialmente aparelhos técnicos públicos como cultura, saúde, educação, transporte. Também não possuem indústrias ou economia direcionadas para estes atores sociais. Na contramão disso tudo – teoricamente – temos os bairros luminosos.
Aos empreendedores destes novos bairros periféricos o que importa é o lucro. No pensamento de alguns urbanistas neoliberais, Itapetininga está atrasada frente às políticas de ocupação territorial por adotar de forma tardia esta lógica de descentralização de moradias.
Nestes novos bairros é a partir do pertencimento que as relações construídas surtirão poder para diminuir as ausências de instrumentos práticos e técnicos públicos ou para ratificar as consequências da objetivação do sonho da casa própria.
Mas também os bairros-opacos – novos ou antigos – competem entre si e com os bairros-luminosos que possuem mais recursos técnicos, informacionais e políticos, ou seja, poder para pleitear melhorias que ainda não contemplam as demandas não apenas dos sujeitos, mas também dos objetos.
Consequência. Por exemplo, pensando nos objetos, o centro velho que é um bairro-luminoso com a saída dos moradores, pode ser tornar majoritariamente comercial e manterá maiores possibilidades de investimentos públicos e privados devido ao seu poder simbólico e econômico, material e imaterial.
Entre os problemas dos bairros-opacos relacionados a objetivação do sonho da casa própria, destaco os déficits na mobilidade urbana. O automóvel passa a ser elemento central à qualidade de vida dentro do que Bauman (1999) chama de “melhor mundo dos possíveis” e eu de “melhor bairro dos possíveis”.
Os que não o possuem terão dificuldades para deixar suas casas em busca de trabalho, para o entretenimento, saúde ou educação. Em dois bairros: Vale San Fernandes e Vila Mazzei este cenário se acentua no presente-futuro ou se acentua os problemas de outrora.
Somados, são mais de 1500 moradias. Os bairros e as casas são para atender o sonho da casa própria e a imposição do descontrole do mercado. Irá segregar das áreas mais próximas do centro parte significativa de trabalhadores e trabalhadoras com renda familiar média de aproximadamente três salários mínimos ou um pouco mais.
Especialista em gerencialmente estratégico, Carlos Matus (1996) diria que isso é um problema quase-estruturado. Isso significativa que não há solução que satisfaça a todos (moradores, público e privado), apenas troca de problemas de maior complexidade para problemas de menor complexidade.
São nos bairros-opacos que se concentram uma parcela da população mais suscetível a vulnerabilidade econômica contemporânea. São profissionais liberais, funcionários públicos, trabalhadores informais e profissionais da área do comércio e serviços afetados pelo arrocho salarial. Infelizmente, para estes atores sociais a vida nova virá com alguns velhos problemas sociais, ambientais, econômicos, de mobilidade e outros.
As afirmações e os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando a opinião do site Cidade Itapetininga.