11 AGO 2020
JOVIR FILHO
A partir do momento em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a Covid19 como pandemia e os casos da China, Itália e Espanha passaram a povoar nossos noticiários, a quem cabia o discernimento veio o pânico. E já se vão mais de 5 meses que assim estamos, entre descrença de quem não compreende o problema e o medo de quem possui a devida compreensão.
Infelizmente, esta não será a última pandemia do século, aliás, com o aquecimento global afetando habitats naturais, cada vez mais o meio silvestre se aproxima do meio urbano e, hoje, a ciência conhece em torno de 3 mil vírus na natureza, porém, estima que sejam em torno de 1,5 milhão de vírus existentes, assim, conhecemos apenas em torno de 0,2%.
E o que assusta é o despreparo global para tragédias desta magnitude, pois demonstra a vulnerabilidade humana, não tanto por falta de tecnologia, mas sim pela desigualdade distributiva de recursos. Ao certo, acabamos por desconhecer a realidade dos números e dos recursos disponíveis à população, de um modo geral. Em Itapetininga, não é nem um pouco diferente, ao contrário, o cenário da saúde é demais de preocupante e não nos damos conta disto ao longo dos anos.
Estamos numa cidade de mais de 160 mil habitantes, entretanto, nosso hospital público recebe pacientes de uma microrregião que engloba em torno de 500 mil habitantes, sem uma infraestrutura mínima. Os profissionais, assim, acabam por se desdobrar dentro do que lhes é oferecido, mas com limitações. Não se realizam cirurgias urgentes em nosso município há anos, senão de traumatologia, ainda com certas restrições. Alguém acometido por uma crise de apendicite, por exemplo, precisa aguardar vaga em hospitais da região. Com esta realidade rotineira já preocupante, dentro de uma iminência de agravamento da pandemia em nossa cidade, tudo se torna ainda mais apreensivo. No total, por exemplo, são, hoje – após ampliação em decorrência do estado de emergência –, 16 leitos de UTI que existem, ou seja, não precisamos de muitas pessoas com quadro agudo da Covid19 para termos um colapso, isto sem contarmos com demais problemas que acometem as pessoas e não param de acontecer, independente de pandemia ou não.
O mais triste, no entanto, é saber que isto é fruto de despreparo político, de organização e uso do dinheiro público em todos os níveis de governo, do municipal ao federal. Se colocarmos uma lupa no desenvolvimento da saúde em nossa cidade, veremos um descuido de diversas ordens e, com isto, conta-se sempre com a felicidade de não existirem problemas em quantidade crítica. Mesmo a pandemia, aqui, não mostrou sua face mais feroz como em alguns centros mundo afora. E, por não se fazer tragédia por aqui, a população permanece sem compreender a real dimensão do descaso. Apenas quando surge um problema grave de saúde, as pessoas descobrem tal realidade, pela prática, pelo desespero de precisar e não ter, infelizmente.
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