04 AGO 2020
JOVIR FILHO
Ao voltarmos 20.000 anos no tempo, encontraremos a civilização nos primórdios da Agricultura, ainda com uma transição de hábitos do nomadismo para os assentamentos. Neste tempo, a média de vida humana girava em torno de 20 anos, como demonstram estudos com ossadas desta época.
Damos um salto e chegamos ao início do século XX, quando a civilização já se encontra espalhada pelo planeta, dividida em nações, industrializada e com estruturas sociais complexas, quase sem sinais do nomadismo primitivo. E, neste momento, 100 anos atrás, mais ou menos, a média de vida humana estava em torno dos 30 anos, pouco mais que isto. Num intervalo de mais de 21.000 anos a diferença na média não se fez tão significativa.
Pensemos, agora, em nosso tempo, século XXI, ainda mais industrializado, com predomínio da vida urbana, sob uma explosão informacional e notório avanço científico ao longo de todo o século passado e mais acelerado ainda neste novo, com claros avanços da medicina e todas as áreas da saúde. Aproximamo-nos, em nosso país, de uma expectativa de vida de 80 anos, quatro vezes mais que os primeiros momentos da vida em sociedade. Em 100 anos, um salto significativo no tempo de vida.
E qual o grande desafio?
Envelhecer! Envelhecer é o nosso maior desafio, este ato relativamente novo para as massas populacionais. Óbvio que existiam pessoas com 80 anos no passado, porém, eram raridade e, hoje, tornam-se natural. E o que vem a ser naturalidade que concentra, ou deve concentrar, nossa atenção e preocupação. Países que experimentam esta realidade há muito mais tempo já convivem com os benefícios e os malefícios da questão.
Malefício? Sim, infelizmente, envelhecer não é um mar de rosas e envolve a compreensão corporal e, sobretudo, mental inerente. O Japão, por exemplo, ostenta a triste estatística de recorde absoluto em suicídio entre idosos, pelas características culturais que apresentam. Em contrapartida, muitas pesquisas sobre qualidade de vida na longevidade vêm de lá também. Eles sabem o que é envelhecer, com seus benefícios e malefícios, muito antes de nós.
A questão brasileira, no entanto, é mais complexa, porque nossa diversidade cultural é grande, além de a diferença na realidade social ser abissal, em muitos casos. Temos um índice de analfabetismo funcional muito alto, o que torna os problemas cognitivos muito presentes e impactando, e muito, na qualidade de vida no processo de envelhecimento. Cuidar de tal questão não é algo banal, tampouco simples, mas se trata de algo essencial. Um imperativo, em nossos dias!